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Homem dos Lobos - Resumo do Caso

Relato do caso


[if !supportLists]1. [endif]Apresentação


Em fevereiro de 1910, um jovem rico e russo dirige-se a Freud para ser analisado.


Sua saúde havia se abalado aos 18 anos por uma gonorreia infecciosa, mas ele só procura o tratamento aos 23 anos quando já está incapacitado e dependente de outras pessoas. Freud percebe que a vida do homem dos lobos havia sido marcada por um grave distúrbio neurótico nos primeiros anos de vida, e faz uma descrição muito cuidadosa desse período.


Antes de chegar à Freud o paciente passou um longo período em sanatórios alemães, tendo tido o diagnóstico de diversos especialistas de um caso de “insanidade – maníaca –depressiva”. Freud despreza este diagnóstico, acredita que seria aplicável ao seu pai, que tinha fortes ataques depressivos, mas não para o filho com fortes traços de uma neurose obsessiva.


Freud, então, se dedica a descrição da neurose infantil, baseada nas recordações de um adulto, e isso, em alguns momentos geram algumas dúvidas e questionamentos dos fatos. Freud defende fielmente a cronologia dos eventos, por ter também tido contado com outros familiares, e de algum modo, tendo assim comprovado os fatos ocorridos.


Freud aponta para as dificuldades da análise, que durante muitos anos produziu raras mudanças. O paciente demonstrava-se apático, escutava, compreendia e permanecia inabordável. Numa tentativa de modificar tal situação Freud (2006, p.23) relata:


Fui obrigado a esperar até que o seu afeiçoamento a mim se tornasse forte o suficiente para contrabalancear essa retração, e então jogar um fator contra o outro. Determinei – mas não antes que houvesse indícios dignos de confiança que me levassem a julgar que chegara o momento certo – que o tratamento seria concluído numa determinada data fixa, não importando o quanto houvesse progredido. [...] Sob a pressão inexorável desse limite fixado, sua resistência e sua fixação na doença cederam e então, num período desproporcionalmente curto, a análise produziu todo o material que tornou possível esclarecer as suas inibições e eliminar os seus sintomas.



[if !supportLists]2. [endif]Histórico familiar


Os pais casaram jovens e mantinham uma vida casada e feliz até iniciarem as doenças. A mãe começou a sofrer distúrbios abdominais e o pai teve os primeiros ataques de depressão, que o levaram a se ausentar de casa.


Tinha uma irmã dois anos mais velha, vivaz, dotada, precocemente maliciosa e que desempenhará um papel importante de despertar o homem dos lobos para a sexualidade.

Houve várias rupturas na infância, os pais venderam a granja e se mudaram para a cidade; durante o verão seus pais se ausentavam e o sujeito ficava com a babá e uma governanta inglesa. Neste período há uma mudança em seu comportamento, diziam que ele era doce como uma menina, mas tornou-se inquieto, irritável e violento.


Sua irmã o atormentava muito, sabia que ele tinha medos, e explorava estes medos.

Durante muito tempo ele foi devoto, e era obrigado a rezar antes de dormir por um longo período, e fazia uma série interminável de sinal-da-cruz.


O pai mostrava grande preferência pela irmã, ele se sentia muito desprezado, e mais tarde surgira um medo muito grande do pai.


A irmã quando criança era parecida com um menino, mas teve uma fase brilhante intelectualmente, seu pai a admirava bastante. Aos 20 anos começou a ficar deprimida, queixando de que não era muito bonita e se afasta do convívio social. Numa de suas viagens envenenou-se e morreu bem longe de casa.


[if !supportLists]3. [endif]A sedução


Sua irmã era uma grande competidora e ele sentia-se muito oprimido diante dela. Em uma primavera, quando o pai estava fora de casa, a irmã havia pegando no seu pênis e brincava com ele: “A babá, dizia ela, costumava fazer o mesmo com toda a espécie de gente – por exemplo, com o jardineiro: ela mantinha-lhe a cabeça em pé e então pegava-lhe nos genitais” (Freud, 2006, p. 32).


Por não ter afinidade com a irmã, e não vê-la como um objeto de desejo, ele passa a se esquivar dela, mas aos três anos, ele tenta ganhar a pessoa de quem gostava: sua babá Nanya. Ao se masturbar na frente dela, foi recriminado por uma ameaça de surgir uma ferida no lugar do pênis. Surge então a castração enquanto uma possibilidade.


Com a supressão da masturbação, sua vida sexual assumiu um caráter anal-sádico, tornou-se um menino irritável, atormentador e gratificava-se ao fazer isso com os animais e seres humanos, principalmente a Nanya, como forma de se vingar da recusa que encontrara. Mostra-se também cruel com os pequenos animais: moscas, besouros e na imaginação fazia também com os grandes animais.


A partir disso, surgem também algumas fantasias masoquistas que para Freud teriam uma relação com o sentimento de culpa.


Ocorre então uma inversão, da atitude passiva a partir da sedução da irmã, a identificação com o pai é substituída pela escolha objetal, o pai era agora seu objeto. Com suas rebeldias, tentava forçar castigos e espancamentos pelo pai.


“Uma criança que se comporta de forma indócil está fazendo uma confissão e tentando provocar um castigo. Espera por uma surra como um meio de simultaneamente pacificar seu sentimento de culpa e de satisfazer sua tendência sexual masoquista”. (Freud, 2006, p.39)


Seu quarto aniversário foi marcado por um sonho que gerou um estado grande de angústia.


[if !supportLists]4. [endif]O sonho


“Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama. (Meu leito tem o pé da cama voltado para a janela: em frente da janela havia uma fileira de velhas nogueiras. Sei que era inverno quando tive o sonho, e de noite.) De repente, a janela abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos brancos estavam sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete deles. Os lobos eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães pastores, pois tinham caudas grandes, como as raposas, e orelhas empinadas, como cães quando prestam atenção a algo. Com grande terror, evidentemente de ser comido pelos lobos, gritei e acordei.” (Freud, 2006, p. 41)


Ele relaciona seu sonho de ansiedade ao medo que sempre teve na infância da figura de um lobo presente em um livro de contos de fadas o qual a irmã o perseguia com esta figura.


Tal sonho tem forte ligação com a castração, que aqui aparece como uma convicção de realidade, não apenas uma possibilidade. Freud conclui que o lobo pode ser um substituto do pai, e que teria trazido à tona o temor ao pai, que a partir dessa época domina sua vida. O medo de castração pode ter se tornado a força motivadora para a transformação do afeto.


O fato do quadro de ansiedade ter ocorrido à noite durante o sonho o remeteu a uma cena que viu quando tinha aproximadamente um ano, que foi a cópula dos pais em circunstâncias não habituais, a mãe estava de quatro e o pai sobre ela. Tal fato teria ocorrido, pois nesta idade ele sofrera de malária e acordava de madrugada por conta da febre, provavelmente numa das vezes em que acordou deparou-se com a cena.


A partir dos 10 anos tinha crises de depressão que se iniciavam sempre à tarde e atingiam um ponto culminante por volta das 5 horas. Tal sintoma persistia na época do tratamento.

Freud adotou uma convicção provisória da realidade da cena primária, não conseguia saber se ela realmente aconteceu ou se seria uma fantasia, ou ainda, se ele viu um coito entre animais e relacionou aos pais. E esta incerteza permanece ao longo do caso, sem tirar a importância do fato relatado. Em momento algum Freud exclui este relato.


Nos últimos anos de sua infância, todos os seus tutores e mestres desempenharam o papel do pai, com influências tanto para o bem quanto para o mal. Aos 10 anos teve um professor de latim cujo nome era Wolf (lobo). O medo paralisante em relação a este professor se estendeu a outros. Era, ainda, um medo do pai.


Tal sonho tem também relação com uma história que seu avô sempre contava, na qual o lobo sem rabo pediu aos outros para subir em cima dele. “Foi esse detalhe que evocou a lembrança do quadro da cena primária” (Freud, 2006, p. 53)


E esta cena não desencadeou uma única corrente sexual, mas toda uma série, toda a sua vida sexual foi fragmentada por ela.


Diz Freud (2006, p.56):


A forma assumida pela ansiedade, o medo de ‘ser devorado pelo lobo’, era apenas a transposição (como saberemos, regressiva) do desejo de copular com o pai, isto é, de obter satisfação sexual do mesmo modo que sua mãe. Seu último objetivo sexual, a atitude passiva em relação ao pai, sucumbiu à repressão, e em seu lugar apareceu o medo ao pai, sob a forma de uma fobia ao lobo.


[if !supportLists]5. [endif] Neurose obsessiva


Aos quatro anos e meio, devido seu estado de irritabilidade e preocupação, sua mãe o inseriu na religião e o familiarizou com as histórias da Bíblia. Tal fato fez com que os sintomas da ansiedade fossem substituídos por sintomas obsessivos. Nesta fase já não há mais traços de fobia de lobos.


Não se convenceu inicialmente da história sagrada, e era capaz de descobrir os pontos fracos da narrativa. “A essa crítica racionalista, porém, em breve juntaram-se ruminações e dúvidas, o que nos revela que nele também operavam impulsos ocultos”. (Freud, 2006, p.73)


Mesmo com a aproximação à religião ele não consegue sublimar a sua atitude masoquista predominante em relação ao pai. Ele transforma-se em Cristo, transformando assim também em um homem. Sua impulsão masoquista encontrou um amparo na história da Paixão de Cristo, que por ordem do Pai e em sua honra deixou-se maltratar e sacrificar. Nota-se uma atitude homossexual reprimida diante de sua dúvida se Cristo teria ou não um traseiro. Tais ruminações se relacionavam ao próprio fato dele poder ser usado pelo pai, assim como a mãe na cena primitiva.


Começou a temer Deus, e a criticá-lo. A resistência a Deus tinha a finalidade de conseguir agarrar-se ao pai.


Por seu pai ter uma doença que o deixava constantemente internado, o Homem dos lobos começou a transferir para todos os aleijados, mendigos e gente miserável um sentimento de dó, e a necessidade de sempre expirar ao passar diante deles.


Uma de suas obsessões era sempre que visse três montinhos de excremento juntos na estrada, tinha que pensar na Santíssima Trindade.


Aos 10 anos, teve um tutor alemão que exerceu grande influência sobre ele. Este tutor não dava nenhum valor às verdades religiosas, o que favoreceu à piedade desaparecer junto com a dependência do pai.


O tutor o desencorajou a fazer maldades com os animais, e de fato ele pôs fim a isso. Surgiu assim, uma sublimação do sadismo do paciente.


[if !supportLists]6. [endif] Erotismo anal e complexo de castração


Freud, até então, sempre relacionou o erotismo anal ao tratamento que se dá ao dinheiro. Aqui ele demonstra que há também outras significações, não se trata apenas do dinheiro.

O paciente tinha diversas perturbações intestinais, e as fezes haviam tido para ele o significado de dinheiro. Esses distúrbios começaram muito cedo, na forma mais frequente e normal nas crianças, ou seja, a incontinência.


Aos quatro anos e meio, durante um período de ansiedade, aconteceu de ter sujado as calças, diante da sua vergonha, queixou-se que não poderia continuar a viver daquele jeito. Frase que durante a análise é relacionada à mãe do paciente. Durante uma ida à estação, com o médico que viera visita-la ela se lamentou das dores e hemorragia e proferiu “não posso mais viver deste jeito”. O episódio ocorrido aos quatro anos, demonstra, assim, sua identificação à mãe. Colocava-se no lugar da mãe e tinha inveja da sua relação com o pai.


Com a morte da irmã, sentiu um grande alívio, pois, agora o pai (que sempre dava dinheiro e atenção à irmã), teria que amar somente a ele.


Havia no Homem dos lobos duas correntes contrárias, uma que abominava a ideia de castração e outra que estava preparada para aceita-la e consolar-se com a feminilidade, como uma compensação.


Aos 5 anos, ele teve uma alucinação a qual seu dedo estava dependurado, preso apenas pela pele.


Apesar das ameaças de castração que recebeu terem vindo das mulheres, foi a castração de seu pai que ele veio a temer.


[if !supportLists]7. [endif] Surge um novo material


O paciente lembra-se que em um momento quando tentava apanhar uma grande e bonita borboleta com listrar amarelas e enormes asas, foi tomado por um grande medo da criatura e fugiu aos gritos.


Recordou-se então de uma babá que teve chamada Groucha (que em alemão significa pera, na granja havia peras grandes com listras amarelas), ficando claro que sua lembrança encobridora da caça a borboleta, ocultava outra lembrança com a babá.


A cena que viu, aos dois anos e meio, era da Groucha esfregando o chão, de quatro, na mesma postura que a mãe na cena primária. A moça teria se transformado em sua mãe, fato que causou uma excitação sexual, em virtude da lembrança da imagem dos pais. Diante disso, urinou no chão numa tentativa de sedução, e o que aconteceu em seguida, foi uma ameaça de castração.


Pareceu, então, que seu medo da borboleta era, em todos os aspectos, análogo ao medo do lobo; em ambos os casos era um medo de castração, que se referia, para começar, à pessoa que primeiro proferiu a ameaça de castração, mas depois foi transposta para outra pessoa[...] (Freud, 2006, p.103)


O desejo de nascer do pai, de ser sexualmente satisfeito pelo pai e de presenteá-lo com uma criança completam o círculo da fixação nos pais.


A todo o momento para o Homem dos Lobos há um conflito entre as tendências masculina e feminina. Ao desenvolver a ansiedade na sua infância, o ego estaria se protegendo contra a satisfação homossexual, a qual considerava um perigo esmagador. E o que se torna consciente é o medo do lobo, não do pai.


Diz Freud (2006, p.119) “De fato, pode-se dizer que ansiedade que estava envolvida na formação dessas fobias era um medo da castração”.


Freud percebeu, ainda, que uma parte do impulso homossexual foi mantido pelo órgão a que estava ligado, isto é, seu intestino, que teria se comportado como um órgão histericamente afetado. “O homossexualismo reprimido e inconsciente refugiou-se nos intestinos”. (Freud, 2006, p. 119)


Durante a puberdade surge no paciente uma corrente masculina, marcadamente sensual, que se relacionava com a cena de Groucha: uma paixão compulsiva que surgia e desaparecia, em acessos repentinos. Houve uma mudança em relação as mulheres, conservando-as como seu objeto sexual. Há neste período um esforço pela masculinidade.


Para Freud, ele adoeceu em consequência de uma frustração narcísica.

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