A ausência da relação sexual e o desejo de saber

O Seminário “Mais, ainda” tem certa notoriedade entre os 26 seminários de Lacan, pois, dentre os vários motivos que podem ser discorridos, nele é apresentado às fórmulas da sexuação que são de certa forma o desenvolvimento da outra famosa frase “não há relação sexual”. Porém é interessante observar que existe um desenvolvimento que se não é linear, não deixa de ter certa conexão. Como diz Miller em alguma Orientação Lacaniana é um traço do work in progress da obra de Lacan.

Desta forma, em seu Seminário “De um Outro ao outro” Lacan afirma que nada sabemos da Mulher e, portanto “não existe relação sexual”. Os últimos capítulos do seminário “De um Discurso que não fosse semblante” apresenta todo um desenvolvimento sobre o lado masculino da fórmula da sexuação, bem como a existência ou não de ao menos um não submetido à norma fálica. Como preâmbulo, o Seminário “... ou pior” já apresenta as fórmulas da sexuação, completas, mas que não recebem o desenvolvimento que irão receber um ano depois.

O ponto que chama atenção é justamente como Lacan tenta abordar o real. Seguindo a linha de Badiou podemos dizer que em Lacan não se conhece o real, se demonstra. Ou seja, a demonstração do real não passa pela esfera do conhecimento e se aproxima do campo do ato analítico. Aí também se insere a tentativa de Lacan que é notória neste momento de seu ensino do uso dos matemas como algo que pudesse transmitir algo deste real. O matema é então peça chave do ensino e transmissão da psicanálise.

Porém o que parece patente neste ensino de Lacan e que subjaz sobre o matema e as fórmulas da sexuação é a afirmação da ausência da relação sexual. Em uma aula em seu Seminário “De um Outro ao outro” Lacan afirma que se existe um saber da Psicanálise o mesmo não pode ser dito sobre o saber sexual. Não existe saber sobre o sexual. Ainda, segundo Lacan é justamente esta ausência de saber sobre o que é A Mulher que gira todo o desejo de saber.