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Resumo do texto Além do princípio do Prazer - Freud 1920

Parte I


Freud inicia o texto dizendo que o curso dos eventos mentais está regulado pelo princípio do prazer, ou seja, o aparelho psíquico tem a tendência de evitar o desprazer ou produzir o prazer.


Do ponto de vista econômico, prazer e desprazer se relacionam à quantidade de excitação, presente na mente. Assim, o desprazer representa um acúmulo de excitação enquanto o prazer se refere a uma baixa excitação.


Existe um limite, tanto de prazer como de desprazer que ou mantém a estabilidade do aparelho psíquico ou então causam uma instabilidade.


A vida mental é dominada pelo princípio do prazer, já que o aparelho mental se esforça para manter a quantidade de excitação o mais baixo possível.


De acordo com Freud (1920, p.19):

[...] existe na mente uma forte tendência no sentido do princípio do prazer, embora essa tendência seja contrariada por certas outras forças ou circunstâncias, de maneira que o resultado final talvez nem sempre se mostre em harmonia com a tendência no sentido do prazer.


Do ponto de vista da autopreservação, o princípio do prazer é ineficaz e até mesmo perigoso. É por isso, que o ego influencia no princípio de realidade, o qual efetua um adiamento e/ou um afastamento da satisfação, admitindo o desprazer como etapa necessária para se chegar ao prazer.


A pulsão sexual recalcada, se chegar a uma satisfação de forma direta ou substitutiva pode, também,, provocar desprazer no ego.

O desprazer neurótico, é na verdade, um prazer que não pode ser sentido como tal.


Parte II


Freud inicia falando o que seriam as neuroses traumáticas (seriam aquelas ocorridas após concussões, isto é, marcadas pela presença de sintomas neurológicos, sem que tenha ocorrido lesões neurológicas, ou ainda, seriam efeitos de desastres e outros acidentes que envolvem risco de vida. Pelo excesso de sintomas motores, tais neuroses estariam muito próximas à histeria.


A principal causa de uma neurose traumática é o fator surpresa, ou seja, o susto. É pois, o fato de uma pessoa encontrar-se em uma situação de perigo, e não estar preparada para lidar com tal situação. Ao contrário da angústia que seria um estado de espera ou preparação para um perigo, mesmo que este seja desconhecido.


Freud percebe que não é raro, pessoas que sofrem de neuroses traumáticas, terem sonhos repetidos sobre a situação referente ao acidente. O que a princípio contradiz a função primordial do sonho de realização dos desejos.


Desse modo, é possível pensar que ou a função do sonho foi perturbada, ou ainda, que existiria no ego uma tendência masoquista.


Para tentar explicar e compreender tal situação, Freud retoma algumas teorias sobre a brincadeira das crianças, que constantemente também se repete.


Relata então uma cena que viu de uma criança com 1 ano e meio de idade. Este conseguia falar apenas algumas palavras, dormia bem à noite, obedecia as ordens e nunca chorava quando sua mãe o deixava por algumas horas. Era também muito apegado à mãe, que tinha todos os cuidados necessários com o filho.


Esse bom menininho, contudo, tinha o hábito ocasional e perturbador de apanhar quaisquer objetos que pudesse agarrar e atirá-los longe para um canto, sob a cama, de maneira que procurar seus brinquedos e apanhá-los, quase sempre dava bom trabalho. Enquanto procedia assim, emitia um longo e arrastado ‘o-o-o-o-ó’, acompanhado por expressão de interesse e satisfação. (FREUD, 1920, p.25)


Freud percebe então que se tratava de um jogo de desaparecimento e retorno, o menino tinha um carretel e nunca lhe ocorreu brincar como se fosse um carrinho, mas ele arremessava o carretel, que desaparecia entre as cortinas enquanto gritava ‘o-o-ó’, quando puxava para si o carretel, e o objeto reaparecia ele dizia ‘da’ (ali).


O prazer maior neste caso, relacionava-se ao aparecimento do objeto. Certo dia o garoto usou as mesmas expressões quando viu sua mãe retornar após um período de ausência.


A interpretação feita por Freud, se relacionava à renúncia pulsional, ou melhor, a renúncia à satisfação pulsional que realizava ao permitir que a mãe saísse sem questionar. Ele compensava tal situação em encenar o desaparecimento e o aparecimento dos objetos ao seu alcance.


A criança provavelmente não sentiu como algo agradável ou indiferente a partida da mãe, mas o que então levaria ela repetir uma situação desagradável?


O que Freud percebe é que a criança só foi capaz de repetir a experiência desagradável porque alcançava um prazer de outra ordem.


Por um lado, a criança ao conseguir dominar a situação (ao jogar o objeto é como se ela superasse a ausência da mãe, como se ela dissesse: vá embora, eu não preciso de você) assume um papel ativo, e isto seria capaz de produzir uma satisfação na criança.


“Quando a criança passa da passividade da experiência para a atividade do jogo, transfere a experiência desagradável para um de seus companheiros de brincadeira e, dessa maneira, vinga-se num substituto”. (FREUD, 1920, p.28)


Se assim for, tal caso demonstra a dominância do princípio do prazer, mas Freud busca ainda uma tendência além do princípio do prazer, algo que seria mais primitivo e independente dele.


Parte III


Os conteúdos recalcados no inconsciente não oferecem resistência ao tratamento analítico, ao contrário, eles se esforçam o tempo todo para vir à consciência.


Freud aponta que grande parte do ego é inconsciente, apenas uma parte é pré-consciente. Ele acredita que as resistências do paciente se originam no ego, e a compulsão à repetição estaria relacionada ao recalque.


“Não há dúvida de que a resistência do ego consciente e inconsciente funciona sob a influência do princípio do prazer; ela busca evitar o desprazer que seria produzido pela liberação do recalque”. (FREUD, 1920, p.31)


A resistência do ego, funciona portanto, por influência do princípio do prazer, buscando evitar o desprazer que o retorno do recalque provocaria.


Contudo, a compulsão à repetição, causa desprazer ao ego ao trazer à tona impulsos recalcados. Dessa forma, a compulsão à repetição também rememora experiências passadas que não incluem possibilidade alguma de prazer.


Além desta compulsão à repetição aparecer nas neuroses traumáticas e nas brincadeiras infantis conforme descrito anteriormente, elas também podem ocorrer pela análise, na qual situações indesejadas e desprazerosas são repetidas pela transferência.


Parte IV


“O que a consciência produz consiste essencialmente em percepções de excitação provindas do mundo externo e de sentimentos de prazer e desprazer que só podem surgir do interior do aparelho psíquico;” (FREUD, 1920, p.35)


Assim, a consciência volta-se para o exterior, mas também tem proximidade com outros sistemas psíquicos.


De acordo com Freud, é importante para os organismos vivos possuir um escudo protetor contra os estímulos do mundo externo. Os órgãos do sentido entram em contato com pequenas estimulações externas e se aproximam apenas de amostras do mundo externo.

(Freud já havia afirmado anteriormente que os processos inconscientes são intemporais, ou seja, não são ordenador temporalmente, não sofrem alteração do tempo, e a ideia de tempo não pode ser aplicada ao ics.)


No interior do organismo, portanto, predominam os sentimentos de prazer e desprazer, e em caso de desprazer há uma tendência do organismo em criar uma defesa contra os estímulos desprazerosos.


Dessa forma, considera-se como sendo traumáticas as excitações externas capazes de atravessar a barreira protetora do organismo. Um acontecimento que produz um trauma é capaz de provocar um distúrbio no funcionamento da energia do organismo e a ativar algumas medidas defensivas.


A neurose traumática teria como consequência uma grande ruptura no escudo protetor contra os estímulos.


Se antes Freud já teria apontado que os sonhos seriam realização de desejo, novamente aqui, ao falar sobre as neuroses traumáticas, ou de sonhos que trazem lembranças traumáticas, não estariam apoiadas no desejo, mas estariam obedecendo à compulsão à repetição, “[...] embora seja verdade que, na análise, essa compulsão é apoiada pelo desejo (incentivado pela ‘sugestão’) de conjurar o que foi esquecido e recalcado”. (FREUD, 1920, p.43)


Parte V


A pulsão é a fonte das excitações internas, segundo Freud (1920,p.45), “No inconsciente, as catexias podem com facilidade ser completamente transferidas, deslocadas e condensadas”.

As pulsões, portanto, obedecem ao processo primário, ou seja, ao modo de funcionamento do inconsciente.


A compulsão à repetição infantil tem um alto caráter pulsional. A criança nunca se cansa de repetir. A repetição torna-se, então, uma fonte de prazer.


Diz Freud(1920, p.47): "Parece, então que uma pulsão é um impulso, inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas [...]".


Da mesma forma, ele retorna à biologia para tentar comprovar sua tese. Com isso, ele aponta que os fenômenos hereditários e fatos da embriologia teriam também uma tendência à compulsão orgânica de repetir, como exemplo, ele cita os casos de vôos migratórios ou da migração de desova dos peixes;


As pulsões de conservação impelem à repetição e à restaurar um estado anterior de coisas (que teria sido adquirido historicamente), garantindo que o organismo siga seu próprio caminho até a morte, afastando-se de meios externos que poderiam antecipar este processo.

Ele acrescenta ainda, que não existe apenas a pulsão de autopreservação, mas também as pulsões de morte, porém, “[...] o organismo deseja morrer apenas de seu próprio modo”. (FREUD, 1920, p.50)


As pulsões sexuais também são conservadoras, pois são resistentes às influências externas e preservam a vida por um longo período.


A pulsão recalcada nunca deixa de buscar a satisfação completa, que consiste na repetição de uma experiência primária de satisfação).


É a diferença entre uma satisfação exigida e uma que é conseguida que fornece o fator impulsionador para continuar tentando alcançar esta satisfação.


Parte VI


"[...] fomos levados a distinguir duas espécies de pulsões: aquelas que procuram conduzir o que é vivo à morte, e as outras, as pulsões sexuais, que estão perpetuamente tentando e conseguindo uma renovação da vida [...]" (FREUD, 1920, p.57)


Freud tem uma visão dualística da vida pulsional, de um lado uma pulsão que impulsiona o retorno ao estado inorgânico (pulsão de morte), e do outro lado uma pulsão que tenta preservar a vida, para que a morte ocorra de forma natural, e não influenciada por meios externos (pulsão de vida).


Ele utiliza como base Schopenhauer, pois de acordo com o filósofo a morte é o propósito da vida, e a pulsão sexual seria a vontade de viver.


Com isto, o próprio conceito de sexualidade é também ampliado juntamente com o conceito de pulsão sexual, abrangendo aqui muitas coisas que vão além da função reprodutora.


Para Freud, o ego seria o verdadeiro reservatório da libido, e daí ela se estende à outros objetos.


As neuroses de transferência seriam resultado de um conflito entre o ego e a catexia libidianal dos objetos.


Dessa forma, reconhece, então a pulsão sexual como Eros - o conservador de todas as coisas e ainda, admite que a pulsão sexual estaria ligada à pulsão do ego (pulsão de autoconservação).


Ele percebe desde o início a presença de um componente sádico na pulsão sexual.


A tendência dominante da vida mental e, talvez, da vida nervosa em geral, é o esforço para reduzir, para manter constante ou para remover a tensão interna devida aos estímulos [...], tendência que encontra expressão no princípio do prazer, e o reconhecimento desse fato constitui uma de nossas mais fortes razões para acreditar na existência das pulsões de morte. (FREUD, 1920, p.66)


É necessário supor uma associação entre a pulsão de vida e a de morte.


Parte VII


O princípio do prazer opera de tal forma, que liberta o aparelho mental de excitações, conserva a quantidade de excitações ou mantém esta excitação o mais baixo possível. Tal fato relaciona-se à tendência de retorno ao estado inorgânico.


O aparecimento de sentimentos de prazer e desprazer não está presente somente nos processos primários, ou seja, no funcionamento do inconsciente, mas também nos processos secundários, isto é, no funcionamento do sistema pré-consciente/consciente.

Por fim, Freud aponta que o princípio do prazer, na verdade estaria a serviço da pulsão de morte.


"[...] as pulsões de vida tem muito mais contato com nossa percepção interna, surgindo como rompedores da paz e constantemente produzindo tensões cujo alívio é sentido como prazer, ao passo que as pulsões de morte parecem efetuar seu trabalho discretamente. O princípio do prazer parece, na realidade, servir às pulsões de morte". (FREUD, 1920, p.74)




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